Artigo: O Princípio Biocêntrico: a Vida ao centro
O Princípio Biocêntrico, elaborado por Rolando Toro, é o paradigma que fundamenta o modelo teórico-operativo da Biodanza®.
Este Princípio tem como base referencial a própria vida, e por isso se inspira nas leis universais que conservam os sistemas vivos e que tornam possível a sua evolução.
Neste contexto, chama-se Vida, a “tudo que existe no Universo, sejam elementos, astros, plantas ou animais, incluindo o homem, é componente de um sistema vivente maior”, tudo faz parte do reino da Vida - e ela anima tudo - desde a mais ínfima partícula de luz até à maior galáxia, do cristal ao pensamento mais elaborado e subtil.
Perante esta compreensão sobre o que é a Vida, neste conceito mais abrangente, então tudo faz parte deste sistema prodigioso e é impossível não nos maravilharmos pelo sentimento de sagrado que emana da existência.
Segundo o Princípio Biocêntrico, o universo existe porque existe a vida e não o contrário. Para Rolando Toro “a vida não é a consequência dos processos atômicos e químicos, mas da estrutura que ordena e guia a construção do universo. As relações de transformação matéria-energia são os estados de integração da vida” e “a evolução do universo é, na realidade, a evolução da vida”.
Este Princípio torna-se uma proposta para a reformulação dos nossos valores colectivos em que eu não sou apenas quem eu penso que sou, já que a essa ponta do puzzle se somam componentes de identidade física, biológica, mental, psicológica, espiritual, cultural e social. Compreendemos ainda porque nós próprios somos um universo por explorar.
A Vida passa a ser o princípio e o direito a ser defendido com primazia em relação a todos os demais. Mas, quando observamos constantemente como o ser humano é responsável por destruir o planeta, nada é mais urgente do que possibilitar e apoiar a reaprendizagem das funções originárias e o respeito e reverência à vida.
Através da Biodanza® procuramos aceder a um novo estado de ser e viver, seguindo um modelo interactivo, de rede, de encontro e de conectividade, despertando a nossa sensibilidade adormecida para renascer do caos que nos rodeia no sentido da harmonia e sacralidade.
Nesta época conturbada da humanidade "onde a comunicação reforça o ter sobre o ser … o homem só tem direito de se sentir realizado se tiver carros do ano, casas maravilhosas e uma infinitude de parafernálias supérfluas… tem uma percepcção distorcida, não confiando nos outros nem em si mesmo” (Soares, E. G. 1995).
Se, na visão da Física Quântica, nós criamos o mundo que observamos, na abordagem Biocêntrica afirma-se que a noção de vida, com dimensão planetária ou cósmica, está presente na ciência, nas experiências místicas e na vida comum de qualquer pessoa sensível.
Alguns dos mais importantes representantes da ciência contemporânea tiveram a percepção da existência de uma ordem evolutiva do Universo, uma espécie de “propósito inteligível”, que permite à inteligência humana descobrir relações sistémicas dentro da realidade. Daí que, investigar e vivenciar essa presença da vida, inevitavelmente, nos conduzirá a novos paradigmas da existência.
O Princípio Biocêntrico considera as interações, as conexões do sistema vivo e propõe ultrapassar a miopia antropocêntrica, que procura explicar o significado do Universo desde o referencial humano, para dar prioridade à vida. Deixar também a ilusão do determinismo físico e abandonar progressivamente o pensamento linear, para entrar na percepção topológica e na poética da totalidade.
O caminho apontado abre-se a um novo modo de sentir, de pensar e de agir inspirado em toda a Vida e permite ao ser humano experimentar uma qualidade transcendente de si próprio e do Todo.
Leonardo Boff, no seu livro “A Ética da Vida”, segue esta mesma linha e afirma “hoje, em face da crise ecológica mundial, a grande pergunta é: como viver? Como nos relacionar com a Terra para preservá-la, não ameaçá-la para garantir a nossa própria vida e existência de todos os demais seres que vivem na Terra?”.
Este Princípio e a prática da Biodanza® procura dar uma resposta pela positiva, viver no respeito e na solidariedade para com todos os companheiros de vida e de aventura terrena, humanos e não humanos, para que todos possam continuar a existir e a desenvolver‑se.
O homem precisa compreender que é um componente de um sistema muito maior, que as suas ações são capazes de modificar esse sistema e, por outro lado, que ele está igualmente sujeito às modificações que nele ocorrem.
Quando voltamos a colocar a Vida no centro, dando-lhe o foco da nossa atenção, voltamo-nos também e naturalmente para as questões existenciais e para a consciência da Vida inscrita no ser humano, em toda a sua multidimensionalidade.
Em Biodanza® toda a expressão, todo o movimento, toda a dança, é uma linguagem viva e nasce do ser no momento intensamente vivido aqui e agora, da Vivência.
Para Roger Garaudy (Dançar a Vida, 1980), “Dançar é um modo de existir. Não apenas vago, mas celebração, participação e não espetáculo, a dança está presa à magia e à religião, ao trabalho e à festa, ao amor e à morte. Os homens dançaram todos os momentos solenes da sua existência: a guerra e a paz, o casamento e os funerais, a semeadura e a colheita”.
Catarina Almeida, 13Dez16
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