Artigo: O Círculo de partilha
Dando início ao ritual de encontro semanal de uma aula de Biodanza, deixamos à porta da sala o quotidiano e as nossas ocupações, funções, papéis, fardas, etc e um a um sentamo-nos em forma de círculo.
Reunido o grupo está criado o espaço onde cada aluno pode partilhar com os restantes sobre as memórias geradas pelas aulas anteriores – uma forma de explorar significados para o que foi a sua dança-experiência, a partir da primeira pessoa.
Partilhar significa apropriar-se das suas danças e do mundo que elas geram dentro, também pela palavra e fazer dele, tal como nas danças, um momento de expressão autêntica e verdadeira para se conhecer a si mesmo.
Para Rolando Toro “a descrição das vivências tem um valor científico independentemente de se passarem no interior do indivíduo”.
E se quem partilha se permite deixar o coração falar, por parte do grupo é exercida a receptividade e o acolhimento numa escuta qualificadora do momento do companheiro, assumindo o privilégio de estar presente perante o “desafio de expressão”.
E quantas vezes nos sentimos profundamente inspirados por estar a escutar a partilha dos nossos companheiros…
A escuta é pois o privilégio de quem assiste à “conexão profunda consigo mesmo… uma entrega generosa e autêntica da intimidade” participando ambos: quem partilha e quem escuta, num mútuo “acto de confiança”.
Sem interpretações ou julgamento, sem precisar de justificações nem de teorias explicativas, este espaço oferece assim o contacto singular com o mundo interior, o mundo poético, o mundo das emoções e dos sentires e por isso é tão valorizado como início da vivência, que depois se lhe segue, em forma de dança.
No código de participação da Biodanza dizemos que “o que acontece na bio fica na bio”, e este código inclui o que dançamos e o que é objecto das partilhas dos alunos.
“No início era o Verbo” e na Biodanza também. É na partilha que se inicia o processo de relação consigo mesmo e com a sua Vida – pela palavra e depois pelo movimento, caminhando ambos no sentido da integração e plenitude da identidade.
Catarina Almeida, 8Ago17
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"A descrição das vivências tem um valor científico independentemente de se passarem no interior do indivíduo. A descrição das vivências é uma forma de pôr em palavras, estados interiores, um desafio de expressão, na realidade, um modo de conexão profunda consigo mesmo e com os membros do grupo.
Uma entrega generosa e autêntica da intimidade, um acto de confiança."
Rolando Toro, criador do Sistema Biodanza®