A Liberdade é uma possibilidade que, como em 25 de Abril de 1974, se conquista!
É interessante porque esta é a palavra mais utilizada para descrever a primeira experiência de Biodanza.
No início da facilitação isto surpreendia-me. Agora já não me surpreende nada.
Percebi, por mim e por quem está à minha volta que, apesar de nos dizermos livres, não o somos verdadeiramente. Estamos aprisionados a uma vida que exige a nossa energia, o nosso tempo, a nossa vida... em troca de muito pouco.
Aprendi a chamar-lhe sobrevivência. Mas hoje também lhe posso chamar Medo.
No instante em que nascemos somos livres, mas no minuto seguinte estamos indefesos e por isso cativos. E o que se aprende, ao preço de crescer, é a dar a nossa liberdade, para ser cuidados, amados. Depois, oferecemos a nossa condição em troca de ser aceite, para pertencer.
Os primeiros anos de vida são para aprender esta troca, mascarada pelas escolhas totalmente inconscientes que fazemos, desde o desporto ou actividade escolhida, ao grupo de amigos, ao curso na faculdade...
... ao futuro que nos espera e que sem sabermos como, ainda não foi vivido mas já está cheio com trabalhar, férias, casa, carro, casar, reproduzir-se...
A primeira conquista de ser adulto para mim, é precisamente reconhecer-se não-livre, porque daí pode resultar consciência de que é possível começar a fazer diferente.
É aqui que a Biodanza é uma chave de ouro, e felizmente não é a única, mas esta eu conheço, sei como funciona - e sei que funciona!!
Quando o convite da consigna é feito e a música toca e o movimento começa, sai de cena quem eu "penso que sou" e entra para o baile quem eu sou de verdade, uma criatura inteira, genuína, generosa, sensível e presente. Sou sempre eu e sou sempre um eu novo.
É uma surpresa que assusta a maioria das pessoas que experimenta e que as leva para bem longe da repetição daquela possibilidade assustadora ou desconcertante.
Por isso são poucos os corajosos que ficam, para repetir a experiência e encontrar invariável e inevitavelmente a mentira que todos andamos a contar a nós próprios sobre sermos livres.
Liberdade é aquilo que encontramos quando o que sai para fora vem de dentro, nasce na fonte da identidade, dentro e ao centro. Não vem da cabeça, não é uma ideia, nem um conceito, não é uma palavra. Não se discute. O que vem deste centro é verdade própria e absoluta!
O movimento, a dança, e a Biodanza abrem espaço para a reaprendizagem do que sou Eu, mesmo Eu: espontâneo, amoroso, significativo, natural. Através do meu movimento posso reconhecer-me autenticamente e usar com propriedade todas as palavras que começam por 'auto'...
Esta descoberta devolve-me finalmente à responsabilidade de trazer para fora o que nasce dentro. Por outras palavras, devolve-me à poesia de Viver a Minha Vida.
E depois trata-se de voltar a aprender a caminhar, como fizemos lá atrás na infância, um a um, passo a passo, conquistados com entusiasmo e graça, inspirando-me em mim e nos meus companheiros de viagem.
Ser livre é isto - saber que cada passo é um passo novo e que apesar de se concretizar nos meus pés, na direcção que escolho, o faço a sorrir porque sei que o impulso, a ignição, nasceu do coração e que é dali que se faz Vida.
Dali se faz um Ser Humano.
Por isso, e mais, repito que a Liberdade é uma possibilidade que, como em 25 de Abril de 1974, se conquista!
Catarina Almeida
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